Ansiedade climática e saúde mental: o impacto das mudanças ambientais nas pessoas

29/11/2024


Atualizado em 29/11/2024  |  por Equipe OICS

Nos últimos anos, a crescente frequência de desastres naturais e a intensificação da crise climática têm gerado uma preocupação cada vez mais palpável nas sociedades ao redor do mundo. Este fenômeno tem sido denominado como "ansiedade climática" ou "eco-ansiedade". 

A ecoansiedade é definida pela Associação Americana de Psicologia (APA) como um "medo crônico da catástrofe ambiental" que surge ao observar os impactos das mudanças climáticas, levando a preocupações sobre o futuro de si mesmo e das próximas gerações. Ou seja, uma profunda preocupação com os impactos negativos da ação humana sobre a saúde do planeta. 

A psicologia ambiental

Este fenômeno é considerado uma resposta emocional complexa que pode resultar em transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão. A psicóloga Isabella Rasca, especialista em psicologia ambiental, explica que a disciplina ajuda a compreender como as mudanças climáticas e os desastres naturais afetam o nosso comportamento, bem-estar e a saúde mental. 

"A psicologia ambiental examina o sofrimento psicológico causado por desastres, como o estresse pós-traumático ou a eco-ansiedade, que é esse sentimento de angústia com as consequências das mudanças climáticas”, diz. Ainda, investiga como as comunidades podem se adaptar e desenvolver resiliência, identificando fatores como apoio social e espaços urbanos adequados. 

A especialista ressalta que a área ainda está em desenvolvimento, mas já oferece ferramentas para lidar com os impactos psicológicos das transformações ambientais.Os profissionais de saúde mental utilizam abordagens terapêuticas como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) a fim de proporcionar um espaço seguro para que as pessoas compreendam e questionem seus medos em relação às questões ambientais. 

A perspectiva dos jovens

Para as gerações mais jovens, a situação é ainda mais grave, pois a crise climática se apresenta de maneira mais imediata e visível, gerando um impacto profundo desde cedo. Uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) em 2023 revelou que mais da metade (57%) dos jovens entre 16 e 24 anos sentem ecoansiedade.

Ana Terra, integrante do movimento Jovens pelo Clima, compartilha a experiência de muitos jovens que vivem com a constante angústia sobre o futuro. "Eu acho que existe um sentimento, pelo menos mais superficial, em quase todos os jovens que eu conheço, que têm minimamente noção do que significam as mudanças climáticas, ou que já vivenciaram algum tipo de evento climático extremo", afirma Ana. 

Ela diz que a ansiedade climática se agrava em sua geração, pois os jovens têm uma visão do futuro onde as possibilidades parecem cada vez mais incertas. "A crise política, econômica e social em que vivemos também influencia essa sensação de insegurança. Estamos tratando de perspectivas do futuro em que parece que não temos mais controle sobre o que vai acontecer", explica Ana.

Esse sentimento de impotência é comum entre os jovens ativistas, mas também pode se estender a muitas outras pessoas afetadas pela insegurança ambiental. "Eu tento trabalhar dentro de mim e com outras pessoas, nunca deixando o senso de urgência de lado, mas sem que ele domine. A ansiedade pode paralisar nossas ações, por isso, é importante não deixar que ela nos prejudique emocionalmente."

Como lidar?

Diante de tantos desafios, como é possível lidar com a ansiedade climática de forma saudável, sem negar os problemas ambientais, mas também sem se sobrecarregar emocionalmente? Para Isabella Rasca, a chave está em "focar no que está dentro do nosso controle". Realizar ações positivas, como adotar hábitos mais sustentáveis e engajar-se em iniciativas ambientais, pode gerar um senso de controle e diminuir a sensação de impotência.

Além disso, ela enfatiza que a busca por apoio social também é uma estratégia eficaz. "Quando nos conectamos com outras pessoas que compartilham preocupações semelhantes, isso cria um senso de comunidade que ajuda a aliviar a ansiedade", explica a psicóloga.

Ana Terra também defende a importância de agir para aliviar a ansiedade, sugerindo que estratégias como o planejamento para situações de crise, como ter uma casa segura ou saber como agir em caso de desastres, ajudam a manter o controle emocional. "Essas estratégias me ajudam a lidar com a ansiedade, ao me sentir mais preparada para o que pode vir", diz Ana.

Envolvimento social

Para Isabella, é importante que a sociedade se envolva mais ativamente em soluções coletivas e sustentáveis, pois ao perceber ações que geram um impacto real, pode motivar as pessoas a se engajarem sem se sentirem sobrecarregadas. Ela acredita que a criação de espaços de ação coletiva pode inspirar um sentimento de esperança e empoderamento, combatendo a sensação de impotência diante da crise ambiental.

O caminho para enfrentar a ansiedade climática não passa apenas pela conscientização do problema, mas também pela adoção de práticas que nos conectem com a possibilidade de mudança, por meio da ação coletiva e da adaptação individual. O apoio psicológico e a compreensão das estratégias para lidar com o medo do futuro auxilia tanto os indivíduos quanto as comunidades a se fortalecerem diante do que está por vir.

O OICS: 

Com o intuito de estimular a sustentabilidade urbana nas cidades brasileiras, o Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS) atua como uma plataforma de mapeamento e divulgação de soluções inovadoras e sustentáveis para desafios urbanos. Em meio a esse propósito, destaca-se o papel dos municípios como protagonistas na aplicação efetiva dessas soluções. O conhecimento aprofundado sobre alternativas para a inclusão da sustentabilidade no planejamento urbano é central para capacitar os gestores municipais a implementarem práticas mais sustentáveis em suas localidades. 

Caracterizadas de acordo com o território brasileiro, por meio de dados biogeofísicos e indicadores temáticos, as soluções e estudos de caso identificados pelo OICS são modelos replicáveis de alternativas sustentáveis para desafios urbanos. São divididas em seis grandes temas: ambiente construído; energia; mobilidade; saneamento ambiental – água; saneamento ambiental – resíduos sólidos e soluções baseadas na natureza. Para visitar a plataforma e conhecer mais sobre nossas soluções e estudos de caso, clique aqui.

Por: Ana Luiza Moraes