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O investimento em inovação para o desenvolvimento de novas tecnologias que ampliem a escala da agricultura sustentável é um passo necessário diante do atual cenário de mudanças climáticas, em que a agricultura, tal como é realizada na grande maioria dos casos, é um dos importantes colaboradores para o aquecimento do planeta e degradação do meio ambiente. Disponibilizar máquinas para os agricultores, com manutenção e orientação de uso, bem como facilitar o acesso a insumos por parte dos agricultores (preferencialmente aqueles adubos aceitos pela agricultura orgânica, além de mudas e sementes), torna a implementação de agroflorestas em escala ainda mais viável. A agrofloresta com mecanização é uma experiência piloto cujo objetivo é testar a eficiência do ponto de vista ambiental, social e econômico da inserção de maquinário na implantação desse modelo agrícola. O teste foi realizado em 20 hectares, envolvendo 37 famílias. O foco foi garantir que esses sistemas agrícolas, mais amigáveis do ponto de vista ambiental, contribuam para a continuidade de produção de água em qualidade e quantidade nas duas bacias hidrográficas que abastecem a maior parte da população de Brasília. Assim, a substituição de uma agricultura tradicional pelos SAF com mecanização poderá ser mais atrativa para o produtor rural dessas localidades, melhorando a recarga hídrica dos dois reservatórios de abastecimento público, Descoberto e Paranoá. A experiência teve como diferencial a inovação na forma de produção e manejo, propiciada pelo desenvolvimento de implementos agrícolas, o que de certa forma traz uma perspectiva de ampliação da escala de produção bastante desejada pelos produtores. Oficina de Gênero e Pertencimento

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS

Desafios OICS

  • Uso apropriado do solo
  • Tratamento e recuperação de áreas contaminadas ou degradadas
  • Acesso à água limpa
  • Ciclo natural da água
  • Uso eficiente e responsável da água
  • Mudança climática e resiliência
  • Restaurar e conservar serviços ecossistêmicos
  • Ar e água superficial e subterrânea limpos
  • Qualidade de vida, saúde e nutrição

Eixos PCS

  • BENS NATURAIS COMUNS
  • CONSUMO RESPONSÁVEL E OPÇÕES DE ESTILO DE VIDA
  • CULTURA PARA A SUSTENTABILIDADE
  • DO LOCAL PARA O GLOBAL
  • EDUCAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE E QUALIDADE DE VIDA
  • GESTÃO LOCAL PARA A SUSTENTABILIDADE

Palavras-chave

  • Agrofloresta
  • Mecanização
  • Inovação
  • Capacitação
  • Produtores familiares

Atores

SUGARS/SEMA-DF

governamental

SEAGRI-DF

governamental

EMATER-DF

governamental

Administração Regional do Lago Norte

governamental

Produtores rurais familiares das bacias do Descoberto e do Paranoá

cidadaos

CIRAT

terceiro-setor

Ernst Götsch – Concep Implem p mecanização SAFs

outro

Conselho de Desenvolvimento Rural do Lago Norte

cidadaos

Conselho de Desenvolvimento Rural de Brazlândia

cidadaos

Associação de Mulheres Prods Rurais da região do Descoberto

cidadaos

Programa Produtor de Água - Região do Descoberto

governamental

Universidade de Brasília - UnB

instituicoes-de-ensino

Fornecedores

terceiro-setor

Centro Internacional de Água e Transdiciplinaridade - CIRAT

Público beneficiado

Produtores rurais familiares das bacias hidrográficas do Descoberto e do Paranoá

Processo de articulação

O ponto de partida para o desenvolvimento do projeto-piloto foi a elaboração do Termo de Referência. O foco territorial do projeto no DF foram as bacias hidrográficas do Paranoá e do Descoberto que juntas respondem por cerca de 85% do abastecimento de água da capital federal e que são fundamentais para a segurança hídrica do Distrito Federal, conforme o Mapa Hidrográfico do Distrito Federal de 2016/SEMA. A bacia hidrográfica do Paranoá escoa as suas águas pelo Lago Paranoá, situado a jusante da área urbana da cidade de Brasília. Essa bacia tem sofrido uma forte pressão imobiliária, inclusive nas suas áreas mais preservadas, além da impermeabilização do solo e do despejo de resíduos e efluentes que ameaçam a quantidade e qualidade de suas águas. Dentro da bacia do Paranoá o foco de trabalho foi a região da Serrinha do Paranoá (UH 18 - Ribeirão do Torto e UH 9 - Lago Paranoá) e a Área de Relevante Interesse Ecológico da Granja do Ipê (ARIE-Granja do Ipê) – UH 13 - Riacho Fundo. A Serrinha do Paranoá localiza-se na sub-bacia norte do Lago Paranoá. Mais de 100 nascentes foram identificadas nessa região, em trabalho compartilhado entre a Administração Regional do Lago Norte e as instituições da sociedade civil que atuam no local, nos cerca de 9 córregos que formam a região. A ARIE da Granja do Ipê está à margem esquerda do Córrego do Ipê e é considerada a microbacia que possui melhor qualidade de água entre os tributários do Riacho Fundo (porção sul da bacia do Paranoá). Por sua vez, a bacia do Descoberto, localiza-se na porção oeste do Distrito Federal, abrangendo a região da divisa com o estado de Goiás, suprindo a demanda de água de cerca de 60% da população do Distrito Federal e é palco de uma articulação multi-institucional denominada “Aliança pelo Descoberto” que precisava ser fortalecida para garantir a manutenção da vocação rural e a prestação dos serviços ecossistêmicos daquela bacia. A região prioritária da realização do Termo de Referência na bacia do Descoberto abrangeu a UH 33 (Alto Rio Descoberto) e a UH 26 (Ribeirão Rodeador). Para a execução do Termo de referência, o CGEE firmou o Contrato n° 001/2019 com o Centro Internacional de Água e Transdisciplinaridade (Cirat). O Contrato visou executar projetos-piloto voltados ao desenvolvimento de pesquisas e inovações, que colaborem para uma melhor gestão, entendimento e intervenção nas bacias hidrográficas dos lagos Descoberto e Paranoá. Nesse contexto, as ações implementadas buscaram ampliar a capacidade de ação do governo do Distrito Federal para promover a proteção dos recursos naturais com vistas a uma maior produção de água, associada ao processo de diversificação produtiva na região das duas bacias.

Investimento necessário

DE 500 ATE 1000 MIL

Especificação dos valores

    Foram desembolsados R$ 687.782,28 e realizadas as seguintes ações: Aquisição de 03 implementos (maquinários) para mecanização de agroflorestas e capacitação de produtores rurais e técnicos extensionistas no uso destes equipamentos – R$107.098,15 Treinamento de 80 agricultores e extensionistas para utilização de agroflorestas nas bacias-alvo, com introdução ao tema, técnicas e conceitos de implantação de SAF mecanizados, com carga horária de 32 horas
  • R$72.857,64; Implementação de Sistemas Agroflorestais (SAF) mecanizados em 20 hectares das microbacias-alvo, nas bacias do Descoberto e Paranoá
  • R$ 230.417,85 Monitoramento de campo da implementação dos 20 hectares de agrofloresta e as atividades de manutenção no final do segundo ano
  • R$13.644,72; Sistematização com conteúdo para publicação, contendo o resultado da manutenção e a sistematização final das experiências de implantação dos 20 hectares de agrofloresta mecanizada durante os três anos do experimento
  • R$24.200,06; Manutenção e replantio de 84 mudas/propriedade – R$124.058,13. Publicação Cartilha Boas Práticas – SAF pela SEMA/DF [tiragem de 3.000 unidades]
  • R$22.052,30.

Piloto

Período de implementação

Início 01/04/2019

Finalização 28/02/2022

País

Brasil

Estado/província

Distrito Federal

município

Brasília

bairro

Localização

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Detalhes

Foram implantados 20 hectares de sistemas agroflorestais em 37 propriedades rurais, nas regiões de entorno dos lagos Descoberto e Paranoá. Sendo plantadas em média, 400 mudas por propriedade, de diferentes espécies; todas as áreas receberam um kit de sementes com espécies nativas que foram semeadas nos SAF. Para a realização dos plantios, foram utilizados implementos adquiridos pelo Projeto, específicos para Sistemas Agroflorestais. Esses implementos agrícolas foram testados pelo Projeto e são inéditos para essa atividade.
Contribuir para a segurança hídrica dos Lagos Descoberto e Paranoá, responsáveis pelo abastecimento público de aproximadamente 80% da população do DF.
As famílias beneficiadas são, em sua maioria, agricultores familiares, com baixa capacidade de investimento em ações de restauração de áreas degradadas em suas propriedades.

Benefícios

Sociais

A principal mudança ocasionada pela experiência em trabalhar com agroflorestal, para a maioria dos beneficiados (38%), foi em relação aos seus hábitos alimentares, indicativo relevante do efeito benéfico das áreas plantadas para a segurança alimentar. Nesse sentido, a produção de alimentos orgânicos, beneficia diretamente as famílias, podendo ser fonte de renda e garantir sua subsistência, e indiretamente aumenta o mercado de alimentos orgânicos, com benefícios para a saúde da população do DF. Por outro lado, destaca-se a realização de capacitações e a assistência técnica para a realização dos plantios, que são consideradas como benefícios sociais pois promovem a educação para a sustentabilidade e fornecem condições para a geração de emprego e o desenvolvimento profissional dos beneficiários. Esse resultado reflete o potencial e a relevância da presença técnica especializada no campo.

Ambientais

Dentre os principais benefícios ambientais do projeto, destacam-se a conservação do solo, o aumento de biodiversidade nas áreas implantadas, a ciclagem de nutrientes e o aumento da disponibilidade hídrica. Durante os 36 meses do projeto-piloto realizado, foram plantadas 10.298 mudas de árvores frutíferas, 9.424 mudas de eucalipto e 1.100 indivíduos de 25 espécies diferentes de árvores nativas do Cerrado, produzidas a partir da germinação das sementes contidas nas “muvucas”. Segundo a visão dos agricultores no processo de monitoramento, o binômio “água” e “produção” foi considerado como motivo para continuar a se fazer agrofloresta devido ao potencial de aliança existente e reconhecida entre a produção e a conservação nos sistemas agroflorestais. Um benefício associado ao uso do maquinário, destaca-se que o uso de ceifadeira-enleiradeira protege o solo e favorece a microbiota.

Econômicos

Dentre os principais benefícios econômicos do projeto podem ser citados a diversificação da produção e a geração de renda para os beneficiários. 35 dos 37 produtores rurais beneficiados pelo Projeto puderam colher 52 variedades diferentes de alimentos que foram produzidos nos SAF implantados. A tendência é que a variedade de alimentos produzidos aumente ainda mais, já que as frutíferas, na sua maioria, ainda não começaram a produzir. Das 52 variedades de alimentos produzidos, a maioria é de hortaliças e “legumes” (38%), seguidos de ervas e temperos (25%). Ressalta-se que 17 dos 37 beneficiados não tinham nenhuma experiência prévia com comercialização. Também vale destacar que alguns produtores não buscaram a comercialização e o enriquecimento produtivo das áreas (22%), pois possuíam outras fontes de renda. Outros não o fizeram por falta de recursos e mão de obra. Mesmo assim, o resultado de produção e renda foi significativo para a realidade dos beneficiados, a ponto de serem os principais motivos apresentados pelos agricultores para a manutenção dos SAF implantados. As formas de comercialização que os agricultores utilizaram para a venda da produção das áreas dos SAF, as comunidades que sustentam a agricultura – CSA são as principais fontes de renda, representando 82,3% da renda total arrecadada de todas as áreas, mesmo com apenas nove beneficiados (24% do total) utilizando dessa estratégia comercial. A participação ou não em uma CSA foi, portanto, um importante diferencial de renda e de produção. A venda em feiras é a maneira de comercialização mais comum (42%), mas percebe-se a necessidade de melhorar a organização da produção e do coletivo de produtores que se utilizam dessa estratégia.

Emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa)

Este piloto contribui para a redução da emissão de GEE (Gases de Efeito Estufa)

Justificativa

Ao aumentar a produção agrícola de forma sustentável, pode-se impactar positivamente a oferta de alimentos usando menos recursos e minimizando os impactos ambientais negativos. Dessa forma, é possível combinar práticas de adaptação, para aumentar a resiliência da agricultura, e de mitigação, visando reduzir as emissões de GEE’s. Há ainda o benefício da captura de carbono nas áreas com recomposição de vegetação, incluindo espécies nativas.

Informações sobre o processo

36 meses para implementar

12 meses para obter retorno

Inicialmente foi realizada a pré-seleção das famílias beneficiadas a partir de oficinas, nas quais os participantes preencheram formulário específico declarando interesse em receber a implantação de agrofloresta mecanizada e atender aos critérios estabelecidos. A partir desta pré-seleção, foram realizadas visitas técnicas para verificar a veracidade das informações, com especial atenção para o aspecto de produção e área disponibilizada para realização do projeto. Uma vez que a visita tenha sido realizada com sucesso e tendo a agricultora ou agricultor se comprometido em inovar e experimentar um sistema agroflorestal mecanizado e orgânico, foi aplicada a metodologia de implantação do SAF. Para tal, foi realizado o diagnóstico, atividade fundamental para o planejamento do SAF (Sistema Agroflorestal) a ser implantado, pois, a partir do levantamento de informações de natureza socioambiental, pode-se fazer a escolha das espécies, da densidade de plantio, dos consórcios desejados pelas famílias e entender as melhores estratégias logísticas e operacionais de implantação. O diagnóstico foi realizado a partir de uma visita técnica a cada família beneficiária, durante as quais foram realizadas entrevistas roteirizadas, a partir das quais foram levantadas informações sobre os objetivos do SAF, os anseios do(a) agricultor(a), acesso a mercado, melhor local de implantação do SAF, espécies de interesse e histórico da área. Nesta oportunidade, também se conheceram as áreas potenciais para implantação do SAF e suas características ambientais, delimitando, junto à proprietária ou proprietário, a área a ser implantada. Os insumos disponibilizados pelo projeto foram: mudas de espécies arbóreas, sementes de árvores nativas, mudas de bananeiras, cama de frango e pó de rocha para adubação. Outros materiais como ramas de mandioca e adubos complementares como Calcário Dolomítico e ‘Yorin’ foram disponibilizados pelos agricultores beneficiários, como contrapartida, de acordo com o diagnóstico produtivo e as condições de cada um. Após os diagnósticos, foi iniciada a implementação dos SAF. A. Aquisição e teste de implementos para SAF mecanizados O Projeto CITinova adquiriu três implementos voltados à implantação e ao manejo de agroflorestas em larga escala. Os implementos são: (1) a enxada rotativa subsoladora; (2) a ceifadeira-enleiradeira; e (3) a podadora em altura. Para instrumentalizar os técnicos do Projeto e operadores de máquinas da Seagri, foi realizado curso de capacitação que deu enfoque na utilização dos implementos subsolador com enxada rotativa e ceifadeira-enleiradeira. Os implementos foram submetidos a testes, comparando-os com outras formas de se realizarem as operações, as mais comumente adotadas pelos agricultores. Para calcular o desempenho e a eficiência de campo da operação, utilizou-se a capacidade de campo operacional – CCO, mediante a qual é calculado o tamanho da área em relação ao tempo gasto para determinada operação, seja ela feita de forma manual, semimecanizada ou mecanizada. B. Capacitação em Agrofloresta Mecanizada Para capacitar agricultores do território e técnicos da Emater, Seagri e Sema-DF no uso dos implementos adquiridos pelo Projeto e em noções introdutórias de Agrofloresta, foi realizado um curso de formação. O curso foi realizado em quatro módulos complementares, e contou com atividades expositivas, dinâmicas diversas e práticas em agrofloresta. O material de apoio para o curso foi a cartilha Mecanização de Sistemas Agroflorestais em larga escala: da implantação ao manejo; e o Guia Técnico Restauração ecológica com Sistemas Agroflorestais: como conciliar conservação com produção, de Miccolis et al. (2016). C. Implantação de SAF Mecanizados Como resultado das oficinas de mobilização realizadas para o chamamento de interessados em participar do Projeto, obteve-se uma lista de pessoas interessadas em implementar agroflorestas em suas propriedades. A partir do diálogo com parceiros institucionais (como a Sema-DF e a Emater-DF) e com lideranças locais, foram definidos então critérios para a seleção dos interessados: • A propriedade deve estar situada na área de abrangência do Projeto; • A propriedade deve apresentar área mínima de meio hectare, contígua e mecanizável; • O agricultor(a) deve ter disponibilidade de mão de obra (própria, mediante contratação ou mutirão); • O agricultor(a) precisa disponibilizar irrigação (caso a área de agrofloresta fosse implantada próximo ao período de seca); • A área deve apresentar solo propício à mecanização (sem toco, sem pedras, profundo, com nenhuma ou pouca declividade, com solo bem drenado); • A propriedade deve apresentar facilidade de acesso pelas máquinas; • O agricultor(a) deveria ter interesse em inovar e experimentar sistemas agroflorestais diversificados; • O agricultor(a) precisa ter experiência ou afinidade com SAF (gostar de plantar árvores); • O agricultor(a) deve estar comprometido com o cuidado e o manejo para o sucesso dos SAF; • O agricultor(a) deve participar dos módulos do Curso de Agrofloresta. Com base nos critérios definidos e após triagem feita com os proprietários pelo telefone, partiu-se para as visitas às áreas, com o intuito de observar sua viabilidade e obter mais detalhes das propriedades. Os agricultores selecionados assinaram o Termo de adesão ao Projeto, o que reforçou sua necessidade de engajamento e a importância de algumas contrapartidas, como a participação no Curso de Formação em Agrofloresta Mecanizada. Após a seleção dos participantes foi feito Diagnóstico do Potencial Produtivo nas propriedades contempladas. O diagnóstico é uma atividade fundamental para o planejamento de qualquer SAF a ser implantado e é realizado a partir da visita técnica a cada família beneficiária, durante a qual é aplicada entrevista semiestruturada (guiada por um roteiro), a partir do qual são levantadas informações sobre os objetivos do SAF, os anseios do(a) agricultor(a), o acesso a mercados para comercialização, as espécies de interesse e o histórico da área. A partir desses dados, foi elaborada de forma participativa a proposta de desenho produtivo, abrangendo fundamentos e princípios aprendidos no curso. O roteiro que embasou as entrevistas semiestruturadas abordou as seguintes questões: a) o que já foi produzido na área; b) qual adubação foi utilizada na área anteriormente; c) quais os maiores desafios apresentados na produção; d) se os integrantes da família possuem alguma experiência com SAF; e) qual o objetivo da família em implantar uma agroflorestal; f) quais produtos pretendem comercializar com o que for produzido. Nesta oportunidade também foram identificadas áreas potenciais para implantação do SAF e suas características ambientais, delimitando com o proprietário(a) a área a ser implantada, gerando um mapa com informações básicas sobre cada parcela de SAF no Projeto. O referido diagnóstico se baseou no proposto por Miccolis et al.(2016). Após o Diagnóstico, foi feito o desenho base para implementação dos SAF e a escolha das espécies que seriam utilizadas. Na busca de maior eficiência no manejo e na colheita e também para viabilizar a implantação e o manejo de forma mecanizada, o desenho escolhido para a implantação da agrofloresta foi de linhas de árvores (frutíferas, madeireiras e adubadeiras) em canteiros intercalados por faixas (entrelinhas) de capim, que servem para adubação verde, mediante cortes periódicos e acúmulo de biomassa junto às linhas das árvores. A seguir, apresentou-se o croqui básico utilizado para as implantações, com variação das espécies de acordo com a vontade da família agricultora, o objetivo do SAF, a oportunidade de mercado e as características ambientais. Dando sequência ao planejamento, iniciou-se a fase de implantação dos SAF Mecanizados. Para isso foi necessário providenciar os insumos (mudas, sementes, adubo e equipamentos) e agendar os mutirões de implantação, de acordo com as possibilidades dos agricultores e operadores de máquina da Seagri-DF, importante parceira nesse processo e do Projeto como um todo. Além dos três implementos adquiridos pelo Projeto, foram utilizados trator e outros equipamentos, cedidos pela Seagri-DF, para uso conforme a necessidade, considerando-se a especificidade de cada implemento. O Projeto disponibilizou mudas de espécies arbóreas, cama de frango e pó de rocha para adubação, além de sementes de árvores. Outros materiais (como ramas de mandioca e estacas) foram disponibilizados pelos agricultores beneficiários, de acordo com o identificado no diagnóstico produtivo. A principal contrapartida dos beneficiários foi a mão de obra para a implantação e o manejo, uma vez que o agricultor(a) deveria providenciar mutirões com vizinhos, amigos e familiares ou mesmo contratar diaristas. O Projeto apoiou as implantações, ainda, com assistência técnica e 6 diárias de mão de obra para cada 0,5 hectare implantado. O preparo inicial do terreno envolveu a roçagem e definição dos canteiros (afastamento da matéria orgânica). A roçagem foi realizada com o implemento Triton ou roçadeira ou, ainda, com a ceifadeira com enleiradeira, o que facilita o acesso para delimitação da área de plantio e marcação das linhas de produção. Esse é o início do preparo da área que disponibiliza a biomassa vegetal para posterior organização sobre as linhas a serem plantadas. Após a roçagem, a organização da biomassa vegetal nas laterais dos canteiros foi feita de forma manual, por meio de ancinhos ou rastelos, ou com a enleiradeira junto com a roçagem. Foi feita a retirada da biomassa do capim roçado da faixa para a passagem da enxada rotativa subsoladora, para que a biomassa pudesse ser utilizada posteriormente como cobertura nos canteiros. A fase seguinte foi o preparo e distribuição de adubo. A mistura dos adubos foi feita manualmente na área, sendo 16 partes de cama de frango para uma parte de pó de rocha. Com a mistura preparada, a calcareadeira foi carregada. A distribuição do adubo com a calcareadeira foi feita por meio da combinação entre a regulagem da quantidade que seria depositada sobre as linhas (vazão) e a velocidade de distribuição. Foram utilizadas 6 toneladas da mistura de cama de frango com pó de rocha por hectare. Todos os beneficiários que receberam uma unidade agroflorestal mecanizada do Projeto se comprometeram a: 1) Instalar um sistema de irrigação ou garantir o suprimento de água do sistema durante o período da seca; 2) Manter a área implantada manejada, mantendo as entrelinhas roçadas, enleirando a matéria orgânica nos canteiros como cobertura de solo, efetuar capinas seletivas, podas e adubações complementares (todas essas atividades foram instruídas no último módulo do curso oferecido pelo Projeto, cujo foco foi o manejo); 3) Garantir a segurança da área por meio de aceiros e cercamento, evitando fogo e animais que possam prejudicar a área. O manejo das áreas implementadas foi contrapartida dos agricultores. Os canteiros foram manejados preferencialmente na oportunidade da colheita, fazendo-se capina seletiva, ou seja, retirando-se o capim que eventualmente venha a nascer nos canteiros e cortando-se as ervas espontâneas. A poda das árvores para biomassa ocorreu em um segundo momento, quando as árvores de poda já atingiram determinado porte. Para incentivar e contribuir para o sucesso da implantação dos SAF capacitando os agricultores familiares a lidar com a técnica, foi realizado o curso de formação Em Agroflorestas Mecanizadas em 4 módulos, totalizando 32 horas. O Módulo I - Introdução à Agrofloresta com foco ao contexto, princípios da prática agroflorestal e modalidades de SAF, planejamento; Módulo II, Técnicas de plantio e implantação de SAF mecanizado (parte 1) com os métodos de plantios, preparos e adubações antes dos plantios; Módulo III- Técnicas de plantio e implantação de SAF mecanizado (parte 2) com foco em conceitos e fundamentos basilares de SAF como estratificação, sucessão ecológica e práticas de manejo; Módulo VI- Manejo em Agrofloresta Mecanizada água, fertilidade de solo, capina, poda e manejos diversos. D. Monitoramento dos SAF mecanizados implantados Após a implantação dos SAF, foi iniciado o Monitoramento. As ações de monitoramento dos SAF mecanizados implantados no âmbito do Projeto CITinova foram realizadas em três etapas: I - entre fevereiro e março de 2021, em todas as 31 propriedades beneficiadas, totalizando 16 hectares de SAF plantados; II - em fevereiro de 2020, em 5 (cinco) propriedades beneficiadas, III - em abril de 2021, novamente nas 5 (cinco) propriedades beneficiadas em seu segundo ano após a implantação. O monitoramento teve a função de auxiliar a compreender melhor o andamento de parte do Projeto CITinova no Distrito Federal e de seus resultados relacionados ao desenvolvimento dos SAF mecanizados. Ao longo do monitoramento, os plantios e as percepções dos agricultores foram analisados, com o objetivo de acompanhar: a) o estabelecimento e o desenvolvimento das espécies; b) o manejo dado pelos agricultores; c) a produção e o retorno financeiro das áreas; d) teste de infiltração experimental (para avaliar o índice de infiltração da água e compactação do solo); e e) entrevistas desenvolvidas com foco nos recursos hídricos. O monitoramento foi feito por meio de visitas de campo, constituídas nas etapas: • Entrevista semiestruturada; • Contagem das mudas em conjunto com os agricultores; • Levantamento de indivíduos de espécies arbóreas e características de cobertura do solo nos canteiros a partir de faixas amostrais; • Teste de infiltração. O monitoramento teve a função de aperfeiçoar e compreender melhor o andamento do Projeto e seus resultados.

Fatores de sucesso

Sociais

Segurança alimentar para as famílias envolvidas e a disponibilidade de produção de alimentos com qualidade e saudáveis para a população do DF. Os beneficiários foram em sua maioria mulheres, esse fator confere maior visibilidade à participação das mulheres na unidade familiar de produção e nas comunidades, possibilitando a identificação de como enfrentar barreiras e buscar superar as dificuldades, em especial aquelas relacionadas às desigualdades nas relações de gênero. Para as mulheres beneficiadas, os SAF se tornaram um caminho promissor na direção de uma maior autonomia e, consequentemente, de superação ou minimização da vulnerabilidade de gênero. Durante as capacitações e mobilizações houve a promoção da ampliação do conhecimento, no intercâmbio de experiências, no diálogo sobre desafios, dificuldades e caminhos a seguir para o alcance da igualdade gênero no campo; A utilização de implementos nos plantios diminui a carga de mão de obra manual, promovendo maior bem-estar dos trabalhadores do campo, em especial as mulheres e idosos que participaram do Projeto. A capacitação dos agricultores, que foi fundamental para o sucesso do projeto, e gerou autonomia desses quanto ao cuidado das suas terras e proporcionou a criação de identidade com a sua área produtiva e tendo capacidade de realizar algumas tarefas necessárias para concluir a implantação dos sistemas e realizar o manejo das suas agroflorestas, apropriando-se e participando efetivamente da cocriação e cuidado dos seus SAF. O trabalho em mutirão teve alto rendimento e promoveu o fortalecimento da comunidade, ampliando o conhecimento e desenvolvendo habilidades dos presentes.

Ambientais

Mudança visual nas paisagens: * Ambientes antes formados apenas por capins exóticos se tornam ambientes com mais biodiversidade; * Acúmulo de matéria orgânica que acelera o processo de mudança da estrutura do solo; * Disponibilidade de nutrientes; * Aumento da infiltração da água no solo.

Econômicos

- A comercialização de produtos dos SAF ocorreu em diversas das propriedades, gerando renda e sendo uma fonte complementar para as famílias. - Os implementos adquiridos mostraram-se mais eficientes (em relação à operação manual e semimecanizada) e facilitaram a implantação e o manejo das agroflorestas, viabilizando a ampliação de escala e a diminuição de horas braçais e tempo de realização da implantação.

Políticos

- Diálogo e articulação entre os diversos atores envolvidos (sociedade civil, organizações não governamentais, secretarias e órgãos públicos, associações de produtores); - Visita de coordenadores do Projeto CITinova e do Observatório Cidades Sustentáveis para a conexão em campo entre os gestores e executores do Projeto CITinova no DF, tendo sido possível dialogar em campo sobre questões relacionadas ao andamento das implantações e os desafios diários apresentados; - Compartilhamento dos conhecimentos do Projeto com outros Estados.

Possíveis complicações

Fraquezas do piloto

- Na elaboração do termo de Referência para contratação das máquinas, deveriam ter sido mais bem detalhadas as especificações do implemento a ser adquirido. Por exemplo: que as máquinas deveriam ser adaptadas também para o uso de mulheres, que não precisassem de tanta força física envolvida; - Pelo período de execução do Projeto CITinova, a podadora em altura, que tem uso indicado para manejo de espécies arbóreas, não foi utilizada nas áreas implantadas. No planejamento, esse fato deveria ter sido previsto e, portanto, investido em algo para uso durante o Projeto CITinova no DF. O mais indicado seria a aquisição de uma ferramenta assim em um projeto mais voltado para o manejo de SAF; - A utilização de maquinário em SAF ainda é algo em desenvolvimento, para que seja viável ao pequeno agricultor é importante que os implementos sejam aprimorados. Por se tratar de um processo de inovação, a execução desse piloto foi bastante desafiador, demandando constantes ajustes e aperfeiçoamentos dos implementos de mecanização, buscando chegar ao melhor modelo para o perfil das atividades de campo e adaptado às condições locais.

Ameaças a este projeto

- As máquinas e os implementos podem facilitar o trabalho, mas não substituem diversas tarefas da implantação e do manejo agroflorestal. A mecanização permite ganho de escala; contudo, sem mutirões, plantio, cobertura das linhas agroflorestais, enriquecimento com sementes e demais mudas, dentre outras tarefas, torna-se uma empreitada excessivamente trabalhosa, se executada por um número reduzido de pessoas; - Com relação aos operadores das máquinas, é importante que sejam capacitados e que se trave um bom relacionamento e se estimule o envolvimento desses profissionais, cuja boa vontade e cuja expertise são fundamentais para o bom andamento das implantações das agroflorestas, com diálogo e solução de problemas em campo; - É fundamental dedicar cuidado ao aspecto político-social da comunidade envolvida no projeto e se adequar à realidade local; - No DF, há um período longo de seca e os fatores climáticos podem ser uma ameaça, se não forem contemplados no planejamento; - Beneficiar pessoas com interesse econômico sobre a área de SAF, para além do interesse ambiental, pode acarretar num futuro abandono do sistema; - Agroflorestas não são sistemas para serem áreas de simples recuperação florestal, são sistemas que exigem manejo constante e cuidados; - Incêndios criminosos e invasões são ameaças constantes, sendo necessárias ações do poder público para a prevenção; - Falha/falta de monitoramento dos SAFs implantados. O monitoramento dos SAF necessita da parceria com os beneficiários, sendo de extrema importância, uma vez que somente com a participação deles é possível contabilizar colheitas e vendas, registrar a descrição de causas e consequências do sucesso e insucesso de plantios. A carência de anotações e acompanhamento sistemático de atividades, colheitas e vendas por parte dos agricultores dificultou o trabalho de monitoramento que, muitas vezes, debruçou-se em dados subjetivos, como a percepção do beneficiado sobre algum aspecto, para alcançar a completude de informações próprias de um monitoramento.

Soluções

Soluções encontradas

- Fundamental instalar sistema de irrigação ou garantir o suprimento de água no SAF durante o período da seca, principalmente no primeiro ano da implantação, se esta não coincidir com o início das chuvas; - Promover capacitação contínua dos produtores envolvidos e produtores potenciais; - Promover melhoria dos implementos de mecanização e criar novos; - Garantir a segurança da área por meio de aceiros e cercamento, para que a área não seja destruída por fogo ou animais, como consta no Termos de Adesão assinados pelos beneficiários; - Realizar acompanhamento técnico a médio e longo prazo, durante a execução e mesmo após o término do Projeto CITinova no DF. Para isso, é preciso capacitar os técnicos para que estejam aptos a orientar os agricultores sobre agroecologia e agroflorestas; - Os beneficiários atendidos nesses territórios possuem pouca condição financeira para cumprir determinadas contrapartidas. O projeto “Kits de Agrofloresta”, da Secretaria de Agricultura do Distrito Federal, doou 20 sacos de calcário, 5 sacos de ‘Yorin’ e mudas de frutas para cada um dos beneficiários, contribuindo para que eles cumprissem com suas contrapartidas, importante continuar promovendo ações como essas; - Os implementos estão em desenvolvimento e constante aprimoramento; assim, é importante observar seu desempenho e fazer os ajustes necessários; - É importante o desenvolvimento de máquinas e implementos a partir de materiais e peças disponíveis no mercado, para que sua manutenção ou a substituição de peças seja fácil e rápida; - Iniciar o uso da podadora em altura, os plantios já necessitam de manejo em altura; - Indicadores a serem monitorados devem ser delineados antes das ações serem iniciadas, de modo que durante o processo sejam devidamente acompanhados e, ao final, haja dados suficientes para a elaboração de avaliação consistente; - Para executar um bom monitoramento, deve-se capacitar os beneficiários para que os mesmos sejam capazes de acompanhar e registrar o desenvolvimento do SAF, atividades de manejo, colheita, vendas e consumo, dentre outros aspectos sociais, econômicos e ambientais ao longo do tempo; - Divulgar informações relevantes nas escolas, entre agricultores, a todos os cidadãos e envolver toda a sociedade, transmitindo a importância das ações do Projeto CITinova no DF; - Disponibilizar materiais didáticos e promover a capacitação de agricultores em agrofloresta; - Capacitar os produtores no que se refere a comercialização e escoamento dos seus produtos; - Promover capacitação em educação financeira, gestão e planejamento estratégico; - Promover a capacitação de técnicos extensionistas; - Adquirir maquinários e implementos e disponibilizá-los aos agricultores, além de disponibilizar funcionários operadores das máquinas ou capacitar os agricultores para eles mesmos operarem máquinas agrícolas e garantir a manutenção das máquinas e dos implementos, realizando ajustes, se necessário; - A aquisição de equipamentos para realização de manutenção pelos próprios beneficiários nos plantios de agroflorestas; - Facilitar o acesso a insumos por agricultores orgânicos agroflorestais. Disponibilizar, por exemplo, madeira triturada proveniente de podas urbanas; - Organizar a matéria orgânica proveniente das podas urbanas para disponibilizá-la aos agrofloresteiros; - Premiar iniciativas de sucesso; - É de fundamental importância que haja articulação de base e envolvimento dos beneficiários em futuras tomadas de decisões e acordos coletivos, para criar o sentimento de pertencimento e envolvimento com os objetivos e propósitos do Projeto CITinova no DF.

Adaptabilidade

Uso de implementos para a mecanização dos plantios de agroflorestas.

Contribuição para políticas públicas

O investimento em inovação para o desenvolvimento de novas tecnologias que ampliem a escala da agricultura sustentável é um passo necessário diante do atual cenário de mudanças climáticas, em que a agricultura, tal como é realizada na grande maioria dos casos, é um dos importantes colaboradores para o aquecimento do planeta e degradação do meio ambiente. Disponibilizar máquinas para os agricultores, com manutenção e orientação de uso, bem como facilitar o acesso a insumos por parte dos agricultores (preferencialmente aqueles adubos aceitos pela agricultura orgânica, além de mudas e sementes), torna a implementação de agroflorestas em escala ainda mais viável.

Referências e contatos da informação

  • Coordenadora do Corredor Verde
  • Pierre-André Martin - Embya - Paisagens e Ecossistemas - empresa responsável pelo projeto paisagístico

Anexos

  • Anexo 10_Tabelas e Figuras Resultados Template Estabilização de Metais no Solo.docx

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  • Anexo 08_Tabela 4 Template de Fitorremediação Exp 01.pdf

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