Artigo Estudos de Caso

Recuperação do córrego CheongGyeCheon, Seul - Coreia do Sul

Metodologia

Soluções Baseadas na Natureza (NBS)

Renaturalização de rios urbanos

Coréia do Sul

Seul()

O estudo de caso tem como base o trabalho de Kim et al de 2011, sobre a iniciativa de abertura do córrego CheongGyeCheon, no coração de Seul na Coreia do Sul. O córrego havia desaparecido da paisagem desde a década de 1960 pois tinha sido fechado em uma galeria que recebia os esgotos da região e por cima foi construído um viaduto. Para tanto, havia a opção de somente recuperar o viaduto que estava deteriorado ou derrubá-lo e transformar a área em um grande parque, que traria as águas de volta para a paisagem urbana. Houve, portanto, um processo de negociação entre o governo e os comerciantes da área central que achavam que perderiam clientes se os carros parassem de circular com a derrubada do viaduto. A solução para esta questão foi a criação do Comitê de Cidadãos para a Restauração do CheongGyeCheon que fazia a interface com as equipes transdisciplinares com os comerciantes. Com a implementação do projeto de recuperação do córrego, o que ocorreu foi exatamente o contrário do que era esperado pelos comerciantes. O rio reaberto trouxe, só nos primeiros três anos depois da inauguração, 75 milhões de visitantes. Para a realização do projeto que tem 5,84 quilômetros de extensão foi feito um concurso aberto para os três trechos de aproximadamente 2 quilômetros cada: 1) O projeto primeiro foi para o centro e focava na história da cidade; 2) O seguinte foi dedicado à cultura e à urbanidade, e um híbrido entre as duas pontas, 3) O terceiro enfoque foi resgatar a biodiversidade nativa terrestre e aquática, atraindo pássaros e outras espécies. Os projetos foram feitos por equipes transdisciplinares e executadas por grandes empreiteiras coreanas. A execução do projeto total levou 27 meses de construção: de 1º de julho de 2003 a 1º de outubro de 2005. A renaturalização foi projetada para acomodar águas de chuvas de 200 anos com áreas para a retenção das águas. O córrego e o corredor verde ficam entre três e cinco metros abaixo do nível da rua, seguindo até uma reserva ecológica com mais de 1,1 quilômetro quadrado de áreas alagáveis, prosseguindo até encontrar o rio Han, que corta toda a cidade. O projeto contou ainda com a implantação de uma rede de esgotamento sanitário, melhoria na drenagem de águas pluviais, a construção de 22 pontes para conectar os dois lados, o plantio de espécies nativas adaptadas a situações de potenciais alagamentos e áreas com referências histórico-culturais, além da instalação de internet rápida pública. O conceito do projeto foi o de um córrego urbano naturalizado, dedicado ao uso humano, com espaços urbanos ambientalmente amigáveis e em contato direto com as águas e a biodiversidade, oferecendo serviços ecossistêmicos para as pessoas no local. O parque oferece numerosos atrativos, como fontes, águas que cascateiam pelos muros, pedras colocadas de forma a poder cruzar o rio, recantos sob as pontes, áreas para exposições, bancos, trilhas e caminhos de vários aspectos ladeados por vegetação nativa. Ademais, cada ponte tem projeto próprio, muitas foram restauradas, e outras são contemporâneas e arrojadas com objetivo de dar identidade para cada local. O projeto reúne, portanto, tecnologia com recuperação ecológica e revitalização socioeconômica.

Custo para Implementação

Informação não disponível

Governamental.

Desafios

  • A restauração ecológica do córrego possibilitou transformar a área central que era degradada e partida.

  • O projeto do parque ao longo do rio substituiu vias para carros, dando a possibilidade de percorrer a pé do centro até bairros mais distantes, com ciclovias na laterais.

  • O projeto transformou o que era uma galeria de esgoto em um curso d'água vivo.

  • O viaduto e as vias de alto tráfego deram lugar a espaços vivos utilizados pela população e visitantes.

  • A água do córrego hoje é limpa, com crianças e pessoas de todas as idades usufruindo do novo ecossistema aquático.

  • O projeto possibilitou recuperar o ciclo natural da água, tanto no fluxo como com a vegetação introduzida que evapotranspira e sustenta uma rica biodiversidade.

  • Foi feito um novo sistema de coleta de esgoto, deixando as águas do córrego limpas.

  • O material de demolição do elevado foi reutilizado na realização do projeto, reduzindo a entrada de insumos para a sua construção.

  • O projeto proporciona o manejo de águas de chuvas de 200 anos e pode manter o fluxo com chuvas de 118 mm/h.

  • O corredor verde ao longo do córrego proporciona inúmeros serviços ecossistêmicos que dão resiliência para a cidade.

  • O projeto enfoca na qualidade das águas.

  • A recuperação do rio e a construção do corredor verde oferecem melhor qualidade de vida, com ar e água limpos que contribuem para saúde física, mental e espiritual.

  • A abertura do rio com o plantio de espécies nativas possibilitou a restauração e conservação de serviços ecossistêmicos vitais para seus moradores.

  • A cidade ganhou quase 6 Km de corredor verde ao longo das duas margens do córrego.

  • O projeto é uma infraestrutura ecológica, uma solução baseada na natureza que oferece serviços essenciais para a cidade.

  • O projeto transformou o centro da cidade e os bairros por onde passa.

  • O desenvolvimento do projeto teve participação dos comerciantes locais e atualmente é gerido pela cidade de Seul, monitorado por cientistas que acompanham o desempenho ecológico do projeto.

  • O projeto em si é educativo, inspirador e proporcionou o desenvolvimento da cidade e projetou o país internacionalmente.

Contexto

A cidade de Seul nasceu nas margens do córrego CheongGyeCheon há mais de 600 anos. Atualmente equivale à cidade de São Paulo em população e região metropolitana. Com o final da guerra da Coréia, na década de 1950, o córrego teve suas áreas de inundação ocupadas pela população carente que fugiu do norte, por conta da separação da Coreia do Norte, e dos que foram para a capital em busca de empregos. As margens do córrego abrigaram os moradores que viviam sobre palafitas em condições extremamente precárias. Nas décadas seguintes, a Coreia do Sul passou por um processo intensivo de industrialização, nos mesmos padrões que o Brasil. O rodoviarismo também foi o motor do crescimento urbano de Seul: foram construídos viadutos e vias de grande fluxo de veículos. Como o córrego acabou se transformando num valão de esgoto, foi enterrado em uma galeria. Por cima foi construído um elevado, parte do sistema viário baseado em automóveis. Esse eixo viário separou a cidade em duas zonas, uma mais pobre e outra mais privilegiada. O centro da cidade estava degradado e esvaziado pela falta de atrativos e pelo impacto do viaduto e das largas vias. O viaduto estava deteriorado pelo tempo, e a galeria de esgoto (que antes era o córrego) tinha uma concentração de metano produzido pela matéria orgânica 23 vezes maior do que no exterior. (Kim et al, 2011)