“Do sonho a um futuro incluso, biodiverso e resiliente”, Mariana Nicolleti destaca os desafios e oportunidades das SbN no Brasil

12/09/2024


Atualizado em 12/09/2024  |  por Equipe OICS

Durante o 5º Seminário Internacional de Soluções Baseadas na Natureza (SbN), realizado no edifício Celso Furtado em Brasília, Mariana Nicolleti, do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (FGV/GVces), em sua palestra intitulada “Desafios e Oportunidades para SbN no Brasil”, destacou a importância dessas soluções no enfrentamento das crises socioambientais atuais e na construção de um futuro sustentável.

O Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, segundo Mariana Nicoletti, atua na linha de frente do apoio a governos municipais, agricultores familiares e projetos diversos. “A gente vem atuando na ponta, apoiando diretamente quem está lá fazendo acontecer”, diz. Além disso, a fundação trabalha na promoção de eventos, articulações, e no engajamento com múltiplos setores. Mariana trouxe a importância de iniciativas como o fórum realizado com empresas para adaptação e o projeto em parceria com a Fundação Grupo Boticário e a Aliança Bioconexão de SbN no Plano Clima Adaptação.

Ao resumo que deu o nome de ‘’Do sonho a um futuro incluso, biodiverso e resiliente”, a palestrante trouxe o conceito de um futuro que possa ser imaginado e desejado coletivamente. Para isso, Mariana destacou a importância de se afastar da mesma narrativa ultrapassada de emergência climática e de que “precisamos cortar rapidamente as emissões de carbono”, e incentivou a construção de um novo imaginário que inclua caminhos mais criativos para a humanidade e a biodiversidade.

Sobre o estado atual e futuro das SbN, ela discutiu as prioridades para a agenda socioambiental urbana, dado que as cidades abrigam 87% da população brasileira e enfrentam riscos crescentes. Nesse sentido, a especialista questionou o desenvolvimento pautado apenas pelo crescimento econômico e enfatizou a necessidade de um desenvolvimento sustentável que considere mudanças estruturais e adaptações transformativas. 

“A gente já não está mais falando de uma adaptação incremental, não é suficiente”, afirmou. “A gente precisa revisitar as bases do nosso modelo produtivo, das tecnologias e rotas tecnológicas, mas também revisitar nosso modelo social, da própria convivência social nos territórios urbanos e reocupar os espaços públicos de outra forma”, diz Mariana. 

Em relação ao tempo de implementação dessas soluções, a palestrante coloca que a melhor opção é o equilíbrio. “Seria o equilíbrio entre as urgências - questões que são muito prementes, que precisamos resolver pra ontem, questões de sobrevivência, inclusive, nas comunidades periféricas, por exemplo - e, ao mesmo tempo, um caminho de construir resiliência, que necessariamente é uma agenda de longo prazo, assim como as soluções baseadas na natureza, que muitas têm um horizonte de longo prazo”, explicou. 

Nesse sentido, ela reforça que pensar em uma resiliência urbana capaz de transformar sistemas, é pensar em uma agenda de construção contínua (e necessária), e não imediata. Junto com isso, Mariana também reflete sobre a questão dos próprios mandatos dos governos. “Às vezes é parte de uma agenda de 4 anos, o que não é suficiente para pensar no longo prazo”. 

Nicolleti também criticou o entendimento das SbN como inovação, e propôs que passem a fazer parte do cotidiano, para que se tornem uma opção primária no planejamento urbano e da gestão pública. “Quando a gente pensar em infraestrutura, que não se pense mais em infraestrutura cinza ou convencional como primeira ideia para depois abrir as caixinhas da inovação”, sugeriu. 

Além disso, ela destacou a necessidade de traduzir as SbN em ações concretas e ampliar, replicar e escalar as experiências bem-sucedidas que já estão em curso, de modo que isso deve começar a nível municipal. “O caso de replicar e escalar acontece nos territórios. Nos municípios é onde as capacidades técnicas e gerenciais precisam ser fortalecidas”, disse. 

Mariana ressaltou que as cidades de médio e pequeno porte devem fazer parte ativamente da agenda de SbN, uma vez que compõem a maior parte dos municípios brasileiros, e é onde a lacuna de capacidades institucionais, técnicas e de recursos financeiros é mais alarmante. “Queremos ver mais casos e mais soluções sendo apresentadas, debatidas, a partir de uma implementação nesses territórios”.

A palestrante também abordou desafios enfrentados pelas SbN, como a lógica fragmentada do planejamento, a necessidade de integração entre conhecimentos técnicos e empíricos, e a lacuna de financiamento. Nessa linha, ela enfatizou a importância de envolver o setor privado e a dificuldade de preencher a lacuna financeira apenas recursos públicos. “Só o financiamento público não vai dar conta. Tem um desafio sim de traduzir isso pro setor privado”, afirmou.

Dentre os caminhos para o enfrentamento de todos esses desafios, Mariana Nicolleti citou a produção de conhecimento transdisciplinar, com a integração do conhecimento científico e técnico com o tradicional e empírico, a escuta mais efetiva das demandas das populações e comunidades periféricas, a pedagogia urbana e a necessidade de cocriar, testar e pilotar os laboratórios urbanos. “Idealmente, todas as cidades teriam um laboratório urbano, com a atuação dos vários setores em conjunto para imaginar soluções possíveis rumo ao desenvolvimento sustentável local”, comentou.

Ao final, Mariana reforçou que não é possível reduzir as emissões necessárias e lidar com a transição para uma economia de baixo carbono sem SbN. “Não é uma abordagem nova, vamos parar de falar que essas soluções são recentemente trazidas. O Banco Mundial já falava sobre SbN em 2008”, destacou.

Por fim, ela sublinhou que o verde urbano não é só um esverdeamento, mas uma combinação de serviços ecossistêmicos, de adaptação e resiliência, com qualidade de vida. Por isso, os indicadores desse verde urbano precisam trazer como elemento central como a qualidade de vida das populações periféricas estão melhorando. “Quando a gente fala de SbN, a gente tem que se perguntar como primeira questão como essa solução está contribuindo para a redução de desigualdade socioeconômica no Brasil”, concluiu.

Por: Ana Luiza Moraes